Leia e veja trechos do debate da Adunicamp

WAGNER ROMÃO (IFCH): Nesse momento grave que estamos passando de corte de verbas que não é apenas uma expressão vazia, mas é uma expressão que tenho certeza que cada um e cada uma aqui sente no seu dia a dia, no seu departamento, na sua relação com os pós-graduandos e pós-graduandas que, pelo menos no nosso instituto [IFCH], há cada vez menos bolsas disponíveis e isso tem prejudicado o trabalho deles e o nosso também.

As dificuldades cada vez maiores de obtenção de recursos para pesquisa e isso tenho certeza em todas as áreas; as dificuldades cada vez maiores, por exemplo, em um setor importantíssimo aqui da nossa Universidade, o setor da saúde, que tem sofrido bastante com as dificuldades que o Sistema Único da Saúde (SUS) tem passado, a área cultural e uma série de outros setores tem sofrido graves cortes, que, infelizmente, o setor de ciência e tecnologia tem sido fraco para resistir a esses cortes infelizmente, aqueles setores que tem mais poder político e tem mais força política acabam conseguindo manter os seus privilégios de certo modo, mas os seus interesses sobretudo.

Esse quadro nacional é muito importante para que a gente entenda a importância da Adunicamp no contexto nacional, a importância da nossa relação com entidades de representação nacional seja no mundo sindical ou fora dele e entidades como Academia Brasileira de Ciências e as entidades de representação de cada um dos nossos campos de pós-graduação e assim por diante.

A Adunicamp não pode ficar isolada na Unicamp em Barão Geraldo como se fosse uma ilha nesse mundo. Nós temos que ter uma posição política firme de relacionamento com essas outras entidades, com esses outros parceiros na defesa da Universidade Pública, na defesa da ciência e tecnologia públicas e na defesa enfim de um país em que a ciência tenha algo a dizer e tenha algo a contribuir para resolução dos nossos problemas e para a gente sair definitivamente dessa crise.

Eu queria primeiro fazer alguns comentários e depois vou falar sobre nossas prioridades.

É interessante o discurso do professor Sérgio. Eu gostaria de saber porque nessas enquetes que foram feitas não se perguntou sobre as condições de trabalho dos docentes e se os docentes estão satisfeitos com as suas condições de trabalho. Por que nunca se perguntou se os docentes estão satisfeitos com a política que agrega dinheiro da contratação de novos quadros com a promoção na carreira? Eu gostaria de saber porque nunca se perguntou se os docentes na sua experiência em sala de aula têm percebido modificações e novas necessidades com a entrada de novos jovens, que antes estavam foram da universidade e que agora estão dentro da universidade. Isso não é um papel da reitoria e da própria Adunicamp em tentar prover alguma coisa nesse sentido. Por que essas pautas não entraram nessa agenda? Essa é uma questão que eu quero fazer. Porque se a gente pergunta, pergunta e pergunta nós continuamos com o nosso monopólio de fazer as perguntas. E não só o monopólio, mas o viés da pergunta. A pergunta com viés induz a uma resposta. Qualquer estudante de ciências sociais sabe disso.

Nossas prioridades

Nós temos dois pilares nessa nova diretoria. Os nossos dois pilares são: Atuar na defesa intransigente da universidade pública, gratuita, de qualidade, socialmente referenciada e inclusiva, que está sob ataque e vai continuar sob ataque nos próximos anos. Esse é um dos nossos pilares. O segundo pilar é defender nossa carreira docente. Para mim e para os nossos colegas isso é muito claro. Eu entrei nessa universidade em 2014 e sou professor 3.1. Tive uma experiência na Unesp, eu era celetista na Unesp em Araraquara e não consegui passar para 3.2. Está acontecendo alguma coisa. Da mesma forma como eu sinto isso muitos outros colegas têm sentido isso. Talvez isso não impacte tanto nos professores que estão aposentados ou professores titulares, mas a base desse sindicato que não se sindicalizou ainda está sofrendo isso e nós precisamos recuperar e trazer essas pessoas para a entidade.

Portanto, fazer campanha de filiação só vai dar certo se nós mostrarmos para que serve um sindicato. Por último, nós vamos investir fortemente em uma nova política de comunicação, que vai envolver presença nas unidades, mas vai envolver também uso da tecnologia, da internet, de rádio e TV web para gerar conteúdo que possa ser aproveitado pela sociedade.

Enquetes

O que eu acho condenável é que toda responsabilidade da direção de uma entidade seja jogada como se fosse resultado de enquetes. Nós não podemos agir assim. Vou falar de greve novamente. Greve na nossa opinião é um último recurso em um processo que tem que ser muito amadurecido, de convencimento e de escuta da comunidade docente para que nós possamos decidir por um ato mais forte e mais contundente que é uma greve. Isso tem que ser construído.

As melhores greves – e eu participei de algumas quando era estudante – foram greves construídas passo a passo, que cada unidade ia se convencendo e ao final desse processo ou em meio a esse processo uma assembleia docente era chamada e se decidia por um movimento, digamos, mais forte. Mas isso não é a única coisa que nós devemos fazer. Portanto, é muito difícil decidir que tipo de campanha nós vamos fazer com relação aos cortes de verba e é muito difícil decidir sobre o posicionamento que nós vamos ter em relação a reitoria. A reitoria atual tem aspectos positivos em uma série de áreas, a possibilidade de escutar a comunidade a respeito da importância de cotas raciais e étnicas foi um posicionamento importante da atual reitoria e nós aplaudimos e estaremos juntos na defesa desse princípio. Mas outros aspectos, não. Nós divergimos em outros aspectos. Nós precisamos conversar e dialogar seja nas unidades, seja em assembleias como essa para tomar as melhores decisões. Isso não vai vir fruto de enquetes ou de votos eletrônicos.

PERGUNTA

Quero dar oportunidade ao professor Sérgio como representante da Chapa 2 para que ele fale um pouco suas opiniões ou opiniões da chapa – se for possível isso porque talvez haja divergências internas – sobre flexibilização do RDIDP; sobre políticas de cotas e permanência na universidade e o papel da Adunicamp na garantia disso; sobre cortes de verbas na ciência e tecnologia e como a Adunicamp deve se portar e quais seriam as estratégias para isso e, por último, sobre se concorda com a atual política de progressão na carreira e de contratações da Universidade de Campinas.

SÉRGIO MUHLEN (FEEC): De fato, você detectou bem. A nossa chapa não tem uma coesão interna entre os docentes absoluta e isso de fato não é importante. Na verdade, o fato de termos pessoas que pensam diferentemente é muito construtivo porque acho que a diversidade é mais rica do que a uniformidade. Eu fiz um exercício, peguei as duas chapas e olhei a composição dos nossos dez membros e inclui, indiretamente, apoio a pelo menos quatro candidaturas para reitor na última eleição. A chapa de vocês, não. Acho que a nossa no fundo é muito mais plural e diversa porque é assim que a comunidade representada pela ADunicamp é. Se a gente for esperar que ela seja sempre a mesma e tenha uma ideia só, não precisa mais nada disso. O difícil é justamente você dirigir a diversidade.

Flexibilização da carreira e cotas. As cotas são mais fáceis. A decisão já está tomada e não tem muito o que a gente possa fazer sobre isso. Não estamos aqui para ficar rediscutindo esse assunto outra vez.  Agora, se essa rediscussão for colocada, definitivamente nós estamos muito interessados em saber o que todo mundo pensa ao invés de chegar para as pessoas e dizer… eu penso isso e vamos fazer isso e agrade a quem agradar… essa construção não nos atrai. Essa construção já vem sendo feita para todos os assuntos e ela não se mostra promissora…

Flexibilização do RDIDP

Eu não acho que esse assunto é um assunto simples, não. Eu não tenho nenhuma restrição em dizer que eu preciso elaborar melhor isso. Na verdade, fiz toda minha carreira aqui dentro em cima de um plano de carreira que se modificou relativamente pouco e eu estou sentindo que agora em função das restrições orçamentárias ou fatores externos ele está sendo posto em discussão. Essa discussão, está longe de ser feita pela comunidade como um todo. Acho que um dos papeis importantes de uma diretoria da Adunicamp é de fomentar organizadamente esse debate. Ou seja, ouvir a todos e saber como proceder diante disso.

Eu, realmente, me recuso a dizer que tenho a verdade nas minhas mãos e vou colocar para a prática dos outros. Isso eu não vou fazer nunca. Eu prefiro de uma forma muito mais modesta dizer o seguinte: olha, existem assuntos sobre os quais eu não tenho uma opinião completamente formada e isso não é nenhum problema e nenhuma vergonha porque, inclusive, eu sou muito mais parecido com os outros docentes que também podem não ter opinião formada. E o importante é como que a gente sai dessa situação e passa para uma situação de estar emponderado e conhecedor do assunto para tomar decisões. É só isso. ”

WAGNER ROMÃO: Quem aqui é professor RDIDP? Não. Estou podendo olhar no olho das pessoas. É mais do que uma enquete…

A nossa chapa [Adunicamp Plural e Democrática] entende que a grandeza da universidade pública paulista passa pela manutenção do RDIDP. E aqueles que tem posição contrária, nós vamos fazer um grande esforço para convencê-los dessa posição para que nós possamos ter o máximo de força possível em nossa base docente e em todas as unidades para que essa manutenção seja uma pauta firme da nossa gestão e isso tanto na medicina como no Instituto de Computação, como no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, como na FCA e como tantos problemas que temos conversado com os colegas do Cotuca e do Cotil, que nos colégios técnicos estão passando por dificuldades porque a sua carreira também está sendo colocada em risco. Esse é um elemento muito importante para nós.

PERGUNTA

SÉRGIO MUHLEN (FEEC): Suponhamos que a maioria dos docentes – e isso não está longe de ser uma verdade – acha que a vinculação nos dias de hoje ao ANDES é uma coisa inadequada por n razões ou acha que a questão do ensino público e gratuito para todos deveria ser relativizada. Não são opiniões que eu defendo, absolutamente. Estou simplesmente dizendo o seguinte: como é que a chapa de vocês, que é pautada por definições vai se ver diante de uma realidade se a comunidade não adotar essas definições majoritariamente. Faz o que?

WAGNER ROMÃO (IFCH): A questão é a seguinte, a enquete é um retrato de um momento, num dia e num clique. A vida e a política, a vida dos docentes e das docentes, das entidades, das instituições e da nossa relação com elas é muito mais complexa do que isso. Ela tem história, trajetória, futuro, passado e presente que é o que nós podemos fazer por uma entidade. Eu concordo. Em muitos momentos peca pela falta de transparência e peca pela falta de representatividade. Mas, esse patrimônio não pode ser jogado no lixo por um momento. Nós, como responsáveis pela Adunicamp, que construímos esse patrimônio, o ANDES é um patrimônio dos docentes e das docentes desse país, não pode ser jogado no lixo. Nós não vamos resolver o ANDES por uma enquete. Nós podemos resolver os problemas individuais, eventualmente de opinião de um ou outro colega, mas nós temos o dever de contribuir para melhorar o ANDES e a relação que o ANDES tem conosco. Esse é o papel da nossa entidade. Esse é o papel da Adunicamp. O nosso papel é fazer com que o ANDES se aproxime mais desse docente ou desta docente para que ele possa perceber que o ANDES é uma entidade importante sim na luta contra o corte de verbas para a educação, na luta contra o corte de verbas para a ciência, tecnologia, Capes e CNPq. E um posicionamento que nós vamos ter que ter logo sobre os fundos patrimoniais que estão em discussão no Congresso Nacional. Nós vamos ficar aqui de Campinas ou nós vamos ter que ir para Brasília dialogar com os companheiros do ANDES sobre esses aspectos. Esse é o ponto.

Deixe um comentário